sexta-feira, 3 de julho de 2015

Partos sobre pedras

 Mais uma vez se levantou, pegou uma caneta e folha amassada e passou a escrever sobre uma tal antiga realidade que ao menos naquela época fazia sentido. Sua mulher levantou, disse que ele parecia mais um morcego do que gente. Ele respondeu, "baby, sou assim mesmo".
 Ela acabara de se formar em medicina, virou medica obstetra e ele ainda estava ali terminando seu segundo livro pois diziam que ele seria um grande pensador, enquanto um pensa em algo, e o outro pensa no outro algo, "vamos a igreja?" ela sempre dizia, "E eu tenho cara de padre?" ele respondia, da um sorriso mesmo enjoada da pergunta e pega seu chá, bebe o chá e depois solta o chá, diz que ama sua mulher, sua mulher disse que o ama e foi para seu trabalho.
Os dois juntos a nem um ano direito, realmente, um amava o outro ai eles precisavam rachar as contas então decidiram alugar um apartamento na Irmãs Serafina pequeno e precário, mas bonito ainda por sinal. A rotina dos escritores é solitárias, sempre estão sozinhos com papel amassado, ficam falando algumas coisas sobre a vida e as vezes algumas coisas sobre mundos que não existem então ele escreve um pouco e vai para as praças, vai pra Carlos gomes, vai pro Largo do Pará e vê tanta gente que ele se lembra que não gosta de gente, mas adora falar sobre elas.
 Uma, duas, três, algumas vidas em algumas horas, incrível. ela quando mais jovem imaginava que ser medico é mais ou menos como brincar de Deus, cuidar das vidas a qualquer custo, faze-las perder todas as suas enferrmidades, serem felizes e assim ela imaginava sua profissão, mas nem deus de verdade é tão legal assim, já eram 18h, seu ultimo parto até ela começar a fazer seus relatórios, ouve o primeiro parto de gêmeos de sua vida, uma cesariana, uma cesariana tenebrosa e rara.
 Gêmeos, sim, claro, estava no prontuario mas não disseram nada sobre eles serem siameses. Ela puxava ume saiu dois, para ela foi um susto fortíssimo que quase fez ela soltar os dois (ou um) sujeitinho(os), trouxeram a encubadora rápido ninguém incubadora rápido mas não deu tempo, já tinham morrido. A doutora pasma, cade o toque de Deus que ela imaginava que tinha, a mãe gritava de medo e o pai que também estava lá dentro, estavam pasmos.
 A doutora deixou aquela carcaça de merda com as enfermeiras e foi para o banheiro, pegou seu celular e ligou para seu amado aos prantos:
 - Amor, vem me buscar, o parto deu errado, (soluços) eram siameses e ninguém sabia, vem logo! - berrava ela.

 E respondeu:
 - Calma, beba agua e vá para fora e se lembre do que eu dizia, que nada nem ninguém é imortal, nem a dor nem o medo.Só lembra que precisamos sempre ter coragem, e que eu amo você...

Nenhum comentário:

Postar um comentário