Mesmo que isso me cure,
me arranque a dor, me assusta o fato que talvez semana que vem eu não esteja
mais aqui. pois afinal você não esta mais aqui e sendo bem sincero, acho que
você devia nunca ter chegado. Nesse processo de "meditação" que
me encontro o silencio e a dor andam me ensinando muito. Exemplo de vida pra
mim é Thích Quảng Ðức, o monge que ateou fogo a si mesmo em forma de
protesto, num ritual de autoimolação.
Ele era um devoto do budismo, um monge mahayana do Vietnã do sul que havia
nascido em 1897 que viveu até 1963 que morreu carbonizado num ritual de
autoimolação, um ritual de sacrifício sacrifício próprio por uma causa uma
causa maior, naquele período o Vietnã era governado por Ngo Dinh Diem, ele
que foi o primeiro presidente do Vietnã do sul após sua separação com o
território do norte ocorrida entre 1954 (quando a separação foi anunciada,
através do acordo de genebra) e oficialmente ocorrida em 1956.
Naquele período a população do Vietnã do sul era formado
majoritariamente por budistas, em media sabe-se que o numero variava de 70% a
90% das população seguiam essa religião, porém o presidente Ngo Dinh Diem
era assumidamente católico e afirmava que seu regime seria católico e essa
postura fez uma serie de protestos por todo pais. Em uma cerimonia publica,
onde diversos crucifixos foram colocado e a bandeira budista banida uma serie
de protestos aconteceram e em um desses protestos, cerca de 350 monges se encontraram
num cruzamento da cidade de Saigon e um deles era Thích Quảng Ðức, que
chegou em um carro junto com outros dois monges.
Ele calmamente se sentou numa almofada na posição de lótus,
um dos dois monges molhou seu corpo de gasolina e Thíc começava a fazer sua
oração, logo em seguida, o monge que lhe despejou gasolina ascendeu um fosforo
fazendo o corpo dele incendiar, e assim começando seu ritual de autoimolação,
um ato de sacrifício próprio por um bem maior.
Thích Quảng Ðức permaneceu parado, mesmo com seu corpo em chamas, até o momento
que realmente morreu, demorou apenas dez minutos para que isso acontecesse.
Seu corpo foi enrolado em panos, e levado de volta para o seu templo onde lá
passou por uma nova cremação e jura-se que seu coração permaneceu intacto,
mesmo depois de tudo isso, algum tempo depois Ngo Dinh Diem sofre um golpe
militar e é assassinado.
Thích Quảng Ðức inspira por sua bravura por ter se tornado um simbolo de
resistência que ele representa, simbolo que fez a icônica foto tirada
dele durante esse ato se tornar a capa do primeiro disco do Rage Against the
Machine, e por causa desse disco que me interessei por conhecer sua
historia, porem a coisa que mais me instiga nessa imagem e a cena em si, um
monge em chamar na posição de lótus, sem demonstrar dor, e aquilo me faz pensar
numa questão que é muito importante na minha vida atualmente. Como suportar a
dor em silencio? e mais importante do que isso, é preciso suportar a dor em
silencio?
Eu tenho um problema seríssimo, eu não sei lidar com sentimentos muito
intensos, e eu sempre os vomito nas pessoas, seja eles bons ou ruins.
Eu tenho muita raiva, muito amor, muita tristeza, muita alegria, muita
melancolia. eu transbordo isso sempre de diversas formas e nem sempre as
pessoas tem que receber esses sentimentos, nem sempre estão preparadas, ou
simplesmente não merecem, ou simplesmente não tem nada haver com a historia...
E eu tento colocar elas na historia, numa busca incansável por empatia. A falta
de empatia e algo que eu me sinto muito triste quando penso sobre o mundo e a
falta de empatia me trás a sensação de injustiça ou que de fato sou um inimigo,
algo ruim, que eu mereci tudo o que eu estiver sofrendo, de fato as vezes eu
mereço, mas nem sempre porem pra mim e muito difícil filtrar isso, eu na minha
cabeça sou sempre culpado.
Talvez, eu peque pelo excesso, na verdade, eu tenho certeza
que peco pelo excesso, e isso e muito delicado.
Eu tenho reações diferentes quando o assunto e o medo, invés de colocar meu
medo pra fora, eu apenas me esforço para colocar ele pra dentro, o máximo que
posso, fico evitando causar as coisas que meus medos temem que aconteça, e pelo
acesso, eles acontecem. E eu fico aos prantos...
Fato é que eu não sou um monge, muito menos perfeito, muito menos inabalável, e
que quando morrer espero morrer queimado, independente se estamos aos berros ou
não, não lidando bem com nossos sentimentos, não estaremos bem, e não
venha me dizer que vc ta plenamente saudável e lidando com tudo super bem, se
esta um dia não estará, ninguém é inabalável, e quando você cair quem vai te
dar um abraço? a sua mãe entende sua dor? sua namorada te ama? sua esposa ou
esposo e completamente fiel estará sempre ao seu lado?
Você se abraça?
Quantos doces ou salgados você se da de presente por
semana?
A meditar toda minha dor em mim mesmo, eu encontro a cada dia um abismo chamado
mim mesmo, e vou continuar caindo e caindo...
Até que eu ache o fundo, mas me pergunto, vou subir sozinho
ou vão me jogar uma corda?
Quero morrer queimado pois quero sentir o meu corpo se deteriorando da
forma mais dolorosa, quero sentir minha morte e sentir que o fim, quero ser
capaz de aceitar o fim. Pois até hoje, vivo, não e fácil para mim aceitar
o fim das coisas. Vomitei.