terça-feira, 13 de junho de 2017

Inside (Ou o sustentável peso do fictício) Pt. I

PARTE I – O PÁSSARO AZUL SAI PARA DIZER O QUE DEVE DIZER.

Eu sempre enxerguei mau, agora que vejo o caos desta maneira que nunca tinha visto antes, vejo pior que antes. Nada mais é impressionante que o dia ensolado à trinta gruas com nuvens cinzas, nenhuma gota de chuva, o inferno na terra é feito de concreto cinza e demônios que pixam palavras de resistência à ele.
Tudo, de novo, é um tormento, mas não me impressiona, aqui é horrível, se Deus vier, que ele desça armado e com um boque de flores.
O que eu venho lhe contar, é sobre o dia que meu coração saiu de dentro do meu peito, pela segunda vez. Foi após ou enquanto eu tinha sonhos intranquilos, é senti uma dor muito forte e um calor fora do comum, acordei e a primeira coisa que eu vi foi meu colchão todo vermelho, quando levantei meu tronco senti uma dor absurda, grave, olhei para meu peito, “de novo não”, logo pensei ao ver meu peito com um buraco mais uma vez e automaticamente desmaiei. Acordei, o sangue já estava seco, o melado que fica na pele quando o sangue seca é o mesmo de quando o sorvete derrete na sua mão, só que da um certo medo é um pouco mais chato de limpar, sangue deixam manchas que saem com cloro nos tecidos e na pele você tem que esfregar um pouco pra sair eu fiquei. Quando acordei faltava apenas uma hora pra eu sair pra trabalhar, deixei tudo sujo mesmo, apenas fui me limpar e fazer um curativo pra evitar que infeccione.
Todo coração é forte, ele é um músculo que funciona 24h por dia sem parar em nenhum momento durante toda sua vida, você que é fraco, sua mente é fraca, seus conceitos de ética e moral são fracos, nós somos fracos e despreparados para o mundo que vivemos, e o coração não merece aturar esse mar de merda que fazemos e todo esse colesterol ruim que comemos. Nós somos fracos.
“Boa tarde sinhô, e sinhoras”, dizia mais que vendia balas e salgadinhos em mais um ônibus, nunca vi tanta gente a deriva, sem emprego, não existia Mar Azul para essas pessoas já fazia tempo e o engraçado, nenhum tinha uma tática de venda diferente, eles me venciam a benção de deus em seus discursos invés de balas e água gelada, existem exceções, claro, mas em geral, todos procuram seu sustento e um conforto, eles encontram em deus. Um conforto que se pode se tornar comodismo.
Cheguei no trabalho, chegar no trabalho é fácil, difícil é aguentar ele, eu me lavei super mau ainda tinha machas de sangue nas mãos e tinha sangue no meu cabelo e sobrancelhas, eu queria ter amigos no trabalho, todos que passavam por mim não diziam nada, eu não existia.
Meu trabalho era oferecer planos de internet, televisão e telefone fixo para qualquer pessoa. Eu vendia planos de tv por assinatura. Vendas é algo que exige malicia e inteligência, era difícil, mas nem tanto, as vezes exigia mais falta de caráter do que as outras coisas citadas. Pois ninguém lá é correto, ninguém ganharia um premio de funcionário do mês se o critério para isso fosse a honestidade. A globalização me colocou nisso, eu já nasci dentro disso, nós nascemos dentro disso. Nós somos uma geração sem peso, que não anda fazendo muita relevância pra historia, e mundo pesa em nós, e geralmente. Não aguentamos tanto peso.
O dia passa muito devagar dentro da empresa, lá é um lugar feito pra pensar em trabalho, apenas isso, mas naquele dia, eu estava maluco, frustrado e ansioso, mas foi um dia normal, aonde eu ligo pra pessoas em diversas situações, desde fazendo massagens, até coisas triviais, jantando, dirigindo. Um dos que estavam dirigindo não me deu muita bola, “O senhor esta perdendo uma grande oportunidade.”, dizia eu, era ouviveu vozes de crianças ao fundo, o cara da ligação dizia que não podia falar, logo em seguida vários tum-tuns bem fortes e a ligação se encerrou. Não valeu a pena segurar ele na linha, nem passei o preço dos produtos pra ele, mas marquei um retorno.

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