domingo, 3 de maio de 2020

"Menino Guerreiro" somos nós



Meninas e meninos, afirmo que Homens e Mulheres choram nesse momento, sim, nesse momento que lê isso que é reflexo do meu choro. Hoje vamos falar sobre Gonzaguinha e o que é pra mim o ápice de sua obra e a dor do desemprego. 

Gonzaguinha, filho adotivo de Luiz Gonzaga nasceu em 22 de Setembro de 1945 e faleceu vitima de um acidente automobilístico numa estrada no paraná em 29 de abril de 1991. Ele e estudou economia na Universidade Cândido Mendes no Rio de janeiro e durante esse momento na década de 70 formou a MAU, Movimento Artístico Universitário junto com Ivan Lins, Aldir Blanc, Cesar Costa filho e outros artistas, o movimento teve grande um impacto gigante na musica popular brasileira e levou a criação do programa de TV Globo Som Livre exportação, comandado por Elis Regina e Ivan Lins que levou para a TV Os Mutantes, Clementina de jesus, Toni Tornado, Tim Maia, entre outros.
As primeiras composições de Gonzaguinha foram duramente censuradas pela ditadura, de 72 musicas apresentadas por ele ao DOPS (Departamento de Ordem Politica e Social, orgão da ditadura responsável por censura de objetos artísticos e culturais) 54 foram censuradas por completo, o que fez ele ganhar o apelido de "Cantor Rancor" graças a musicas como "Erva" e "Piada Infeliz".


Para mim, nenhuma musica dele é tão importante e que talvez fale mais com o momento que vivemos quanto "O Homem também chora" também apelidada como "Guerreiro menino" que foi lançada 1983 no disco "Alô, Alô Brasil". Não é possível falar algo com certeza absoluta sobre o que Gonzaguinha falava nessa musica, opiniões são diversas e de fato, é possível ter mutas interpretações sobre essa alguns falam que ela fala sobre o patriarcado, ou que a musica fala sobre meritocracia, pois por falar as relações de trabalho são o que enaltece e honra o homem, o trecho a seguir é o trecho que usam para enaltecer essas duas ideias:


"O homem se humilha
Se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida
E vida é trabalho


E sem o seu trabalho
Um homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata"
Eu particularmente acredito que em "Guerreiro Menino" ele quer falar sobre o desemprego, e por isso acho ela tão fantástica e unica, pois nós estos sempre acostumados a tratar o desemprego através dos números, estatística e sobre a comida que pode faltar na mesa. porem nesse caso, sempre acreditei que ele fala mais sobre o que sentimos nesse momento, de forma muito mais universal.
Eu comecei a encarar as relações de trabalho com doze, quase treze anos. e nesse meio tempo dos meus 13 aos 21 devo ter ficado desempregado umas 5 ou 6 vezes, e eu como uma pessoa ansiosa sempre fiz mais merda nesses momentos, a oficina do diabo sempre ficava a mil, mesmo que ainda eu estudasse, afinal nunca dei muita atenção para escola durante a oitava serie e até o ensino médio, eu tentava, mas minha falta de foco só me dava um tempo nas matérias de humanas.
Após o termino da escola o desemprego já me representava deixar de comer ou morar, eu já não morava com minha família, morava sozinho, tinha acabado o ensino médio praticamente traumatizado e tão merda que foi pra mim na época a a ultima coisa que eu gostaria era saber de educação formal, apenas estudar as coisas que mais me interessavam, arte e filosofia em geral, principalmente fotografia e cinema, e nos momentos de desemprego isso foi meu maior refugio. Mas eu como um ansioso com fortes problemas com a culpa sempre me culpo demais, seja quando as coisas dão errado ou até mesmo antes de acontecer eu apesar de sempre tentar me aprofundar nos estudos e dizer que isso já era um passo, algo bom, mas ainda sim sempre me senti mau, mau por não trabalhar.


De fato seria tóxico imaginar que seriamos nada sem nossos empregos, afinal nossos empregos pagam nossas contas, e raramente nossos empregos nos fazem de fato nós ganharmos direito, ganhar dinheiro nesse caso, trato como você receber um valor X pelo seu trabalho, bancar todos os seus gastos e sobrar Y para você investir ou só guardar sem se preocupar, mas mesmo assim, ainda quem esta ganhando dinheiro de fato, não é você, mas seu chefe. O desemprego para quem tem uma empresa já consolidada não sente diretamente os efeitos negativos do desemprego, e quando o assunto for seu emprego, sua demissão será o que salvará a empresa.


O desemprego sempre que é associado a a falta de competência, ao erro, maioria das vezes isso é um grande julgamento precipitado, não que pessoas incompetentes não exista e isso não faça elas perderem empregos, porém, o externo faz muita diferença, as vezes simplesmente acontece, e diz em "Guerreiro Menino" uma coisa mais que óbvia, as pessoas são frágeis:



"Guerreiros são pessoas
São fortes, são frágeis
Guerreiros são meninos
No fundo do peito
Precisam de um descanso
Precisam de um remanso
Precisam de um sono
Que os torne refeitos
É triste ver um homem
Guerreiro menino
Com a barra de seu tempo
Por sobre seus ombros
Eu vejo que ele berra
Eu vejo que ele sangra
A dor que tem no peito
Pois ama e ama"

No começo desse ano calculamos uma media de 12 milhões de desempregados, sabemos que são mais do que isso e milhares de pessoas em empregos informais que em um momento de crise serão demitidas sem direitos e que saíram de seus postos com as mãos atadas. Não há pessoa de mãos atadas que se sentira feliz com um abraço ou com a tradicional frase "gostamos muito do seu trabalho mas não podemos mais ficar com você". Talvez os abraços de familiares e dos amados por nós sirva como consolo, mas nesses milhões é certeza que uma das suas pessoas amadas esta nesse cálculo e dois que sofrem da mesma aflição não fazem uma cura.

Já nem sei quanto tempo nao penso em trabalho, tenho sorte, e uma sensação que quando o COVID-19 passar minha vida vai voltar a ser a mesma, mesmo emprego, reencontrar as pessoas e aturar as consequências sociais de uma separação. De volta as baladas, estudar...
Mas tudo isso [e ilusão, os cenários econômicos projetados para o futuro não são nada positivos, "E dai?"

Se essa pergunta continuar ecoando da boca do presidente e e anda for feito, vou virar coveiro, não tenho muita sensibilidade a coisas mortas, e mais nojento mexer em lixo do que dejetos humanos desde que eu saiba no que estou mexendo, se for pra pegar alguma doença venérea pegue de uma forma que vc tenha no minimo uma boa historia pra conta, mas de preferencia, não pegue.

E dai?

milhões de desempregados, milhares de mortos, muita gente triste, crianças com fome. Milicias protegidas, blindagens na policia federal, corrupção escondida, um projeto de alienação e um autogolpe em curso. 
Seria ótimo se abraços resolvessem nossos problemas, por favor, traga guilhotinas...


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