terça-feira, 15 de setembro de 2015

Eu não sou Rodolfo

 Meu nome não é Rodolfo, meu nome é Narciso, e tudo isso que para mim foi muito complicado, na verdade não passa de um ato infantil que tomou proporções maduras dentro de mim.
 Tudo começou no fim de julho, quando terminamos, os motivos não me pareciam muito verdadeiros mas entendi o lado dele. Focar no profissional e essas coisas que temos que fazer na vida. Ele nem me visitava mais, pelo Facebook as conversas ficaram cada vez mais resumidas, e o pouco que se falava se resumia em "Quando posso buscar minha caneca?" e "Essa caneca é minha, mas pode ficar pra você.", Simplesmente irritante.
 Lembro-me que eu tomei essa decisão baseada numa pergunta muito simples. Eu já tinha feito ela diversas vezes quando criança. Todos pelo menos uma vez a vida se perguntam. "Por que não sou ele? Por que não sou outra pessoa?" Fazia essa pergunta sempre que via alguma outra criança ganhar um brinquedo melhor, quando tinham mais atenção do que eu, ou fazia algo que me invejava por eu não conseguir. Quando eu era criança não me dava bem com nenhum esporte, mas eu adorava esportes, qualquer um chutava melhor do que eu, qualquer um corria mais rápido do que eu, qualquer um era mais forte do que eu.
 Tanto que tinha até vergonha de dizer a palavra forte, pois nunca tinha me sentido assim. Eu ficava triste ao matar insetos, isso me fazia sentir forte da maneira errada.
 Acho que Rodolfo surgiu por causa do tédio que eu sentia naquele momento, o nome Rodolfo surgiu por acaso, eu não gosto desse nome mas foi o primeiro que surgiu na minha cabeça, talvez pela repulsa, talvez por qualquer coisa. Deixei o nome como Rodolfo Vieira, pelo menso algo de mim nele, algo realmente real. Para a foto de perfil eu escolhi o auto retrato de Van Gogh e de capa um dadaísmo de Blirix e depois fui procurar com com quem conversar.
 No outro dia, já tinha adicionado Uns mexicanos de Guadalajara e algumas pessoas da minha cidade, incrível como as pessoas simplesmente aceitam as solicitações de amizade, parece que o mais importante é ter gente por perto, não importa quem seja, nem se existem. Em uma semana já tinha amigos que gostavam de mim, que conversavam comigo todos os dias, eu ficava fuçando as indiretas que meu ex mandava pra mim, ria de todas, e até mesmo quando eu parava de ler elas passavam na minha cabeça e eu ria mais e mais, cada vez mais bobo.
 Um certo dia me veio uma solicitação, eu aceitei, ela não disse nada mas me mando um evento chamado "Noite Falsa" que em sua descrição dizia:

 Olá, nós só queremos nos divertir,(você também quer) fingir que somos outras pessoas. Para entrar não precisa se identificar (pois sabemos que você não quer isso), leve uma bebida. Mas se não tiver como levar não tem problema, bebida nunca vai faltar.
Qualquer coisa, fiquemos bêbados com nossas realidades alternativas

Dia 1, as 23h no lugar avisarmos algumas horas antes.
Sra. Alvares Alguém.

Fiquei perplexo, realmente isso me surpreendeu. Uma festa com um monte de gente como eu. Mas isso para mim já parecia um pouco demais, isso já é fanatismo, é loucura. Eu só faço fazia isso para brincar um pouco, me distrair sorrir... Realmente aquilo não era muito legal.
 Eram 21h30 até que chegou a notificação dizendo qual era o local da tal Noite Falsa, parecia algo de cinema, uma portinha pequena no meio de dois prédios enormes, bati nela e quem abriu foi um cara barbudo, forte:
 - Como se chama?
 Ele perguntou, fiquei meio em duvida durante um segundo do que respondia, eu respondi:

 - Eu sou Rodolfo, muito prazer.- Eu disse, lhe esticando a mão.
 - Sou Marx12monxtros, muito prazer.
 Quase ri da cara dele, mas ai entendi que aquilo realmente era uma festa de fakes.
 Ele me convidou para subir e tomar um gole de algo, subimos e sinceramente nunca vou esquecer daquele lugar, tinha varias salas, um barzinho com qualquer tipo de bebida que imaginar, algumas com portas fechadas, outras nem portas tinham e cada sala tinha uma cor de parede diferente que combinava com a iluminação dos espaços, com sofás modernos e outros coloniais. Quem fosse o dono daquele lugar gastou uma boa nota para monta-lo.
 Peguei uma cerveja mesmo e me sentei ao lado do Marx12monxtros em um sofá e começamos a falar de coisas inexistentes, ele disse que já tinha derrubado um Camelo com um soco no Egito, eu disse que tinha ido a França e conhecido o Paul McCartney, e assim por diante. Até que chegou um cara que tem um nome que nunca na minha vida conseguiria pronunciar, ele me pediu licença e o acompanhou para o bar, então chegaram duas gêmeas morenas, lindas demais e cada uma elas sentou-se em um canto do sofá, e eu fiquei no meio, perguntei seus nomes, elas responderam.
 - Somos a Sra. Alvares Alguém.
 Fiquei mais uma vez surpreso, as duas começaram a falar no meu ouvido, uma de cada vez, de maneira quase que sincronizada e em timbres diferente "Por que você não existe?", "Por que você existe como outro alguém?", "Você não quer me possuir?", "Você já possui alguém?".
 E meu telefone tocou, não imaginei que isso ia acontecer agora, pedi licença, fui para dentro do banheiro, quando atendi o telefone era ele, Rafael, bêbado falando de maneira enrolada:
 - Ei, Narciso, é o Rafael. Desculpa sério, de verdade, quer namorar comigo de novo.
 Fiquei quieto por alguns segundos, respondi:
 - Não, obrigado pelo convite mas não me chamo Narciso, eu sou o Rodolfo.
 Desliguei o aparelho, voltei para as morenas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário